Entrevista
Falos & Stercus 05/03/2014
Participantes:
Sabão:
Aqui é a nossa sala de ensaio. Eu tenho fotos históricas da sala, desde o pior
estado. E agora nós temos um piso sensacional. Tem os ventiladores. O fomento
nos deu uma ajuda no...
Giancarlo:
Um upgrade.
Sabão:
Um upgrade que faz toda a diferença. Um chãozinho de tatame. No inverno a gente
tem uma estufinha também, uma estufinha legal, no verão tem ventilador. Então
influencia o resultado do trabalho com certeza. Tu consegue estar mais entregue
pro trabalho. Pra rolar, deitar, no tatame é melhor, não se quebra.
Entrevista
com Fabio Cunha
Giancarlo:
Fábio, quero que tu me mostre o espaço e vá falando sobre ele.
Fábio:
Aqui é o espaço do Luís Marasca, nosso cenógrafo do Falos & Stercus.
Giancarlo:
Tem que falar teu nome completo, pra autorização de imagem.
Fábio:
Meu nome é Fábio Cunha, sou ator do grupo Falos & Stercus, estamos no
espaço que é ocupado pelo Falos & Stercus no Hospital Psiquiátrico São Pedro
desde 2000. Aqui esse espaço é o ateliê do Luís Marasca, artista plástico,
cenógrafo não só do Falos, mas de vários grupos, premiadíssimo e aqui ele
desenvolve o trabalho dele. Então seguiremos. Essa é a Lia, assistente do Luís
Marasca. Aqui a gente guarda alguns cenários, materiais. A ideia era tirar umas
paredes daí e transformar numa única sala pra poder fazer cenários maiores.
Aqui ó. Essa aqui é a nossa sala de reuniões, onde a gente se reúne e decide
coisas, faz as reuniões de produção. Aqui nós temos as obras do Luís Marasca
pra decorar o nosso espaço. Parte técnica, onde a gente guarda nosso material
de luz, som, rapel, todo nosso material. Tá tudo escondidinho: o som, caixas de
som, material de rapel, material de luz, cabos novos, enfim...
Giancarlo:
Depósito da parte técnica.
Fábio:
O material que tá aqui fora é o material do Despedida,
que a gente vai viajar pra Bahia e Ceará pela Petrobrás. Algumas salas que a
gente guarda alguns materiais, enfim. E outras pessoas ocupam aqui, tem dois
grupos que estão trabalhando aqui, um é Ondina e Tufone o outro é um pessoal
novo que tá desenvolvendo um trabalho.
Aqui
é a salinha do Marasca, onde ele guarda o equipamento mais valioso dele,
serras, enfim. E aqui estão os últimos cenários dos últimos espetáculos, do Hybris, que era um espetáculo que a
gente fez lá no Hipódromo, e a gente ainda tá aqui com ele, com o material. E
pra cá tem uma parte bem delicada, que é uma árvore que nasceu. A gente isolou.
Ela nasceu na beira ali, lá de baixo, desde o Oigalê, do pessoal embaixo, sobe
e hoje em dia caiu, tá destruindo tudo, dá pra ver bem a ponta. Não estava
assim quando a gente chegou. Devido toda a burocracia, a árvore cresceu e nós
não conseguimos, em tempo hábil, evitar isso. Não por culpa dos grupos que
estão aqui, mas sim pela não comunicação da parte de diretoria, de governo, não
sei bem. Mas a gente tentou, tentou evitar esse problema muitas vezes.
Giancarlo:
Tem noção de tamanho aqui? Vocês chegaram já alguma vez medir?
Fábio:
Já. A gente já mediu mas eu não sei de cabeça. Tem mais duas salas. Uma lá no
fundo que a gente gostaria de transformar num teatrinho e aqui também vai ter
uma sala de ensaio, que tá todo o nosso material, bola de malabares, bastões,
bola de pilates. É ali que a gente faz o nosso preparo e a gente usa uma outra
parte também que é a rua, que são aqueles cabos de aço que estão ali em cima,
com corda, tecido. A gente desenvolve esse trabalho aéreo. A gente usou umas
entradas que já tinham no próprio prédio pra poder estruturar esses cabos,
construímos algumas coisas. E também na briga desse espaço já faz quatorze anos
e acredito que nesse ano é o ano que mais se aproxima a uma ocupação legal
desse espaço. Os grupos que estão aqui, acho que são cinco, né? Junto com o
Governo do Estado, Secretaria da Saúde, Direção do hospício e Secretaria de
Cultura com os grupos. Talvez, hoje é dia cinco de março de 2014, tudo se
realize dia 27 de março de 2014, a gente esteja assinando, os grupos e o
Governo, o contrato de comodato desse espaço e aí sim, acredito que os grupos
vão poder aplicar, reformar, pintar, tentar desenvolver um projeto não só
arquitetônico, do patrimônio material, mas do patrimônio que é o mais valioso
que tem aqui, que é o imaterial.
Giancarlo:
Me fala de novo há quanto tempo vocês estão aí?
Fábio:
Nós entramos aqui, vou contar um pouco da história então. Em 99 nós fomos pro
Rio, quando voltamos, lá a gente tinha participado de alguns debates que
falavam que era ruim trabalhar em grupo porque não se dava pra fazer monólogo e
aí tivemos a ideia de fazer vários monólogos ou monólogos ou duplas ou trios.
Surgiu uma bateria de espetáculos do grupo e um deles era o In Surto, que era eu e o Cebola, que
hoje tá na França, com direção do Marcelo e com produção do grupo, que falava
sobre loucura. No finalzinho de dezembro de 99 a gente veio aqui pra fazer um
trabalho de pesquisa de personagem e numa das passagens a gente descobriu esse
espaço, eu e o Cebola. E daí a gente negociou com o hospício, com a direção na
época, que era uma diretoria que era favorável à nossa entrada. Tinha toda a
coisa do projeto antimanicomial, enfim e entramos efetivamente nesse espaço em
dois de janeiro de 2000. E desde então a gente veio, veio estrear o espetáculo
o In Surto no finalzinho de 2000,
início de 2001, se não me engano. Teve a Bienal depois, veio pra cá, que lá
embaixo, nos andares de baixo era um depósito de tudo que tu possa imaginar:
cadeira de dentista, computadores, ventiladores... tudo que não funcionava até
o teto, o pé direito é alto. A Bienal veio pra cá assistir o In Surto, veio pra cá e a gente fez o
serviço de tirar todo esse material e nisso vieram os grupos, através do
Oigalê, depois do Povo da Rua, Neelic. Daí teve essa ocupação que acredito que
foi no meio do ano de 2001, não me lembro direito. E desde então estamos aqui,
esses grupos, passando eu acho que por quatro ou cinco governos, lutando pra
que realmente seja um espaço... A gente já trouxe modelos de vários lugares do
mundo, do Brasil, de fora do Brasil. Esse espaço, ele é citado, não só esse
espaço mas como outros espaços de Porto Alegre como modelo de administração.
Aqui são grupos, cada um tem a sua estética, a sua linguagem, sua maneira
metodológica e administrativa, mas nós conseguimos mostrar que somos capazes de
viver em comunidade e mais do que viver nessa comunidade, é administrar
comumente, junto, no coletivo a gente consegue. A gente chama de síndico cada
mês que passa um grupo é o síndico desse espaço. Então a gente consegue mostrar
que somos capazes não só de administrar, mas de conviver harmonicamente,
coletivamente e desenvolver vários trabalhos. Que daqui saíram cenários que
foram pro centro do país, que foram pra fora do país. Não só representando
Porto Alegre, mas representando o Rio Grande do Sul, indo mostrar um pouco da
arte que é desenvolvida aqui e um pouco de choro é ver que a gente tá há
quatorze anos brigando, que fora daqui muita gente fala muito bem dessa
ocupação, mas os governos que a gente passou, nenhum teve esse olhar, até como
uma maneira de administrar diferenciada e realmente ceder para os grupos.
Acredito e na fé que dia 27 finalmente vai ser nosso esse espaço e acho que vai
dar pra desenvolver bastante as nossas artes.
Giancarlo:
Fala um pouco da importância do espaço pro Falos, se é que tem, né.
Fábio:
Claro que tem. Então, eu vou falar um pouco dessa importância do espaço pro
grupo. Ele não é importante só pra gente poder guardar o nosso material,
mas ele é importante também pra gente desenvolver a nossa arte, no
sentido que nem eu mostro ali os cabos, o próprio Marasca, pra poder
desenvolver um cenário, a pesquisa dele, ele tem o tempo dele, o ritmo
dele. Nós também. A gente poder vir aqui no feriado de Carnaval, sábado,
domingo, não ter um horário específico ou ter que mandar um memorando,
isso é muito importante. Poder entrar na nossa sala, poder dentro dos
nossos, o tempo que cada um dos integrantes tem, poder desenvolver, pesquisar,
experimentar, pra depois poder levar pra fora. Tanto no nível de atuação,
dramaturgia, quanto cenário. A gente experimenta coisas que temos aqui e vamos
pra rua, experimentamos. Daqui a pouco não dá muito certo, volta pra cá, vai se
adaptar a isso, enfim. E a coisa mais significativa pra mim é, a gente sai
muito pra fora do Estado, fora da cidade. É voltar. Ter um lugar de origem,
tu poder voltar mesmo que ela seja, que esse espaço é caótico, bagunçado, mas
nesse caótico tem uma organização de um grupo, aonde a gente consegue sim, ter
uma associação, com CNPJ, e naquela sala a gente vai, briga, se organiza, se
investe ou não investe. Sei lá, ele é importante não só pra esse momento que a
gente vive mas porque eu acredito que os grupos que estão trabalhando aqui vão
deixar para as próximas gerações. No nível artístico, principalmente, nas suas
artes, seus trabalhos que estão rodando o mundo já, vários grupos. As oficinas,
as sementes que a gente planta, mas esse exemplo para as novas gerações que os
grupos e os artistas são bons gestores. São bons administradores. Então acho
que esse espaço ele é bem importante pra tudo isso e outras coisas até de
relações humanas, quando temos dificuldades, venho aqui, passo tempo aqui,
mesmo que seja lixando uma caixa e daqui a pouco desperta coisas, resolve
coisas internas de cada um. São paredes que antigamente traziam um choro de
desespero, de pessoas que estavam presas, que enlouqueceram, que estavam
perdendo a sua consciência, hoje tem grupos que estão nesse mesmo espaço que
muitas vezes estão chorando, não pela perda da sua consciência, mas sim pela
briga pela sua identidade dentro de uma sociedade. É muito louco pra mim, vou
cair lá no Qorpo Santo, que foi aprisionado aqui, que também pensava diferente
da sua época e hoje tem cinco grupos brigando pra: ó, a gente existe, não somos
loucos, cada um tem um trabalho diferenciado e é muito importante sim essa
sociedade, esse governo, e digo governo como o Estado como um todo, ter esse
olhar atento pra nós, pra esse espaço. Porque é e pode ser muito um ponto de
referência não só pra Porto Alegre como pro país e pra fora do país.
Giancarlo:
Tu falou que o grupo tá estabelecendo outras parcerias, cedendo o espaço também
pra outros grupos.
Fábio:
Sim, há um bom tempo a gente desenvolve, alguns integrantes do grupo tem
trabalhos paralelos. Oficina, aulas. Daqui a pouco, essa coisa da
experimentação, que um tempo eu dei aula na descentralização, da
descentralização surgiu um grupo com pessoas que quiseram trabalhar, vieram
aqui pra dentro, desenvolveram seu trabalho, amadureceram e hoje essas pessoas
estão com seus grupos em outros espaços, ou estão fazendo faculdade, não todos,
mas alguns. Nós somos hoje seis pessoas, desses seis acho que quatro fazem esse
tipo de trabalho, ou até mesmo hoje a gente tem cenário de dois outros grupos
aqui, o Santa Estação e o do Rodrigo, que eu esqueci o nome do trabalho dele,
pediram, a gente cedeu. A gente cede esse espaço pros grupos ou alguns artistas
pra poderem vir ensaiar, que isso também é uma discussão dentro da cidade, de
espaço pra ensaio que é bem difícil. Então a gente consegue não só as pessoas
que trabalham comigo, o Fábio e eu vou vir aqui trabalhar com eles, mas outros
grupos a gente consegue também abrigar aqui dentro, ceder esse espaço. Eles não
vem pra ficar, mas eles vem por um tempo, um dois meses, ganharam edital ou
algum prêmio e precisam de espaço, a gente consegue ceder. Tem um grupo que eu
mostrei ali que tá desenvolvendo um trabalho que eles vieram pra cá, ensaiaram,
criaram o espetáculo e hoje eles estão circulando. Às vezes eles deixam o
material aqui, vem pra ensaiar. Das oficinas, agora recentemente o grupo fez a
residência, tinham 27 pessoas que três vezes por semana vinham pra cá, na sala
que eu não consegui abrir, mas depois o Sabão vai mostrar pra vocês, a gente
desenvolveu um trabalho bem legal, depois a gente foi ocupar o Arroio Dilúvio
na Ipiranga. Eram 27 artistas trabalhando aqui, experimentando a linguagem do
grupo, os exercícios do grupo. Enfim, acho que dá pra multiplicar. Cada vez
mais cedendo e mostrando que tem vários exemplos no país desse tipo de
administração, que a partir de um grupo de teatro, de artistas, a gente pode
multiplicar pra outros, trazendo outro grupo que vai vir aqui esporadicamente
ensaiar, guardar seu material, sair. Então isso vai se multiplicar nas
próximas... é isso, quatorze anos que nós estamos aqui, só o Falos fez mais de
dez espetáculos...
Giancarlo:
Isso que eu ia te perguntar. Tu lembra, consegue lembrar?
Fábio:
Daqui a gente fez In Surto, o da Loba foi aqui dentro, depois foi pro
Castelinho, o Prometeu aqui começou e
depois foi pro porto e pra outros lugares, A
Escrita de Borges, O Vôo das Fêmeas,
Hybris, a readaptação do Mitologias, a readaptação do In Surto, o Despedida de Palhaço, fora tantas outras performances e esses
trabalhos. Teve um trabalho aqui que era o Romeu
e Julieta que era um do outro, desses grupos dirigido pelo Marcelo,
orientação nossa, do grupo. O Ilhas também saiu daqui. Foram ensaiadas
aqui algumas foram projetadas até pra gente apresentar aqui, desenvolver aqui
no pátio ou em salas aqui, mas daí a gente caiu bem no período que se proibiu.
Nós não poderíamos mais fazer apresentações, não poderia trazer público, não
poderia fazer oficinas. Foi uma pena esse período porque muita coisa, não só
nossa, mas dos outros grupos poderem se apresentar, experimentar antes de sair.
Então no mínimo dez trabalhos é certo, fora as performances e treinamento que a
gente tem, tanto na corda ali fora.
Essa
coisa de ocupar um espaço coletivo, uma coisa é aqui, na nossa sala do Falos,
outra é o pátio que tem horas que tem um grupo que tá ensaiando, daqui a pouco
é outro, daqui a pouco é nós, tudo no mesmo dia. Então a gente conseguiu
desenvolver toda uma metodologia que cada grupo tem a sua maneira de trabalhar
mas conseguir sim viver em harmonia. Nem sempre foi assim, tem alguns grupos
que a gente tem mais atritos, outros menos, mas a gente conseguiu mostrar uma
maturidade dos grupos de poder conviver juntos. Não só no seu trabalho
individual, mas nessa questão administrativa.
Então,
tem no mínimo dez trabalhos, de espetáculos. Bah, cara, e uma porrada de
performances. A gente ensaiou aqui, preparou o pessoal do Natal Luz, foi
contratado, Natal Iguatemi, n performances que a gente criou aqui e vai pro
espaço real e se adapta e algumas oficinas foram aqui. E agora a última que é a
residência. A gente trouxe a Dani Lima que é do Rio da Intrépida pra dar
oficina aqui, a Simone Rasslan pra dar oficina aqui, o Rivelino, da dança, nós
mesmos. A gente trouxe 27 pessoas além do grupo pra desenvolver durante seis meses,
se alimentar de várias coisas, várias oficinas e criar um trabalho. Esse
espaço ele é bem importante nesses quatorze anos, tanto pro Falos quanto pra
outras pessoas que estão próximas direta ou indiretamente do Falos. E essa
coisa que tem cinco grupos nessa briga. Acho que tem exemplos aí bem
importantes.
Tem
a coisa que pra mim é estranho, conhecidos que não são do ramo, que não são das
artes quando vêm aqui visitar, ver, conhecer não conseguem acreditar que ele tá
nesse estado de depredação. “Como assim, tem cinco grupos aqui, como assim não
dão pra esses grupos ou até mesmo pra outros grupos?” É um pavilhão, são seis
pavilhões que são enormes, desses seis, dois são ocupados por esses grupos.
Então isso é um pouco... sim, eu já tive fora do país, já tive na Inglaterra,
na França. Vi experiências tipo na França, fui até Marseille aonde é um pátio
enorme de uma indústria que uma parte ainda era indústria e outra parte era
cedida pra artistas, muito parecido com isso, mas a diferença era que eram
sessenta artistas, tinha uma escola de circo, tinha um circo, grupo de teatro,
grupo de dança, pessoal das artes visuais... sessenta artistas. Aonde o governo
subsidiava eles e aonde dava esse espaço com toda a estrutura: estrutura de
internet, telefone, TV, água e luz. Quando eu fui pra lá, que foi em 2005, já
estávamos aqui há cinco anos e eu também não consigo acreditar como é que não
tem esse olhar inovador de uma maneira diferente de administrar, de olhar esse
espaço vazio, um patrimônio material vazio, um patrimônio imaterial, se
conseguir juntar isso, isso é a prova que pode ser um bom exemplo de
administração, enfim, de política, de poder desenvolver uma arte. É isso, daqui
a sessenta anos eles vão dizer: lá em Porto Alegre existiram os grupos que
conseguiram invadir um espaço onde ocuparam e conseguiram desenvolver o seu
trabalho. A gente entra pra cena mundial, eu acho. Não é pensar pequeno. Na
Alemanha é isso, os caras invadem um espaço, esses tempos eu vi um documentário
sobre Nova Iorque, como é que eles decidem a exploração imobiliária. Como é que
eles resolveram os problemas de bairros violentos, que depois do 11 de setembro
o bairro mais difícil era o centro, que muitas empresas abandonaram o centro.
Quem decide isso primeiro é o conselho estadual de cultura. Conselho municipal
de cultura. Eles deram pra vários grupos de teatro, dança, enfim, subsidiaram
eles pra eles desenvolverem festival de dança de rua, teatro de rua, enfim.
Então começa, as pessoas voltam, isso eles fizeram no Brooklyn, isso eles fizeram
no Queens, e atualmente estavam fazendo no centro de Nova Iorque aonde as
pessoas começam a frequentar de novo porque tem um produto artístico lá que
eles vão consumir, vão comer, vão ver teatro, vão ver dança, vão comprar um
livro. E, depois que isso acontece, nesse momento que eu vi, faz um ano atrás,
um ano e meio atrás que eu vi esse documentário, que daí começa essa
movimentação de pessoas, do público, no bairro. Eles se viram para as
construtoras e dizem: bom, agora esses bairros têm movimento, vamos explorar
ele, vamos fazer a exploração imobiliária sem tirar esses grupos, sem tirar
esse espaço. Agora recentemente eu estive em São Paulo e vi a praça Presidente
Roosevelt, aonde era a cracolândia os caras construíram uma praça, os caras
andam de skate, jogam basquete, do outro lado da rua é um bairro inteiro, deram
pros grupos: grupos de teatro, grupos de dança, tá o Parlapatões, enfim, tem um
monte de grupos famosos, importantes, não famosos, pequenos com seus espaços.
Alguns têm uma cafeteria, uns têm uma lancheria na frente, tu entra, toma um
café e no fundo tem um teatro onde eles vão poder desenvolver o seu trabalho.
Tem uma lei de fomento decente, em Porto Alegre tem uma lei de fomento a grupos
continuados. Não que ela seja decente, ou indecente, mas o valor dela é
indecente. É cem mil reais. São Paulo hoje só a lei de fomento é sete milhões,
que são dado para esses grupos que tem espaço, eles começaram primeiro ganhando
o fomento e hoje eles já não tem mais o fomento, porque eles conseguem administrativamente
andar sozinho. São autossustentáveis através desse barzinho que tem na frente,
cafezinho, a livraria que vende livros de arte, enfim. E é um bairro que onde,
há alguns anos atrás, dez anos atrás, as pessoas tinham medo de passar e agora
fui lá e nossa! O movimento de gente. É a nossa Cidade Baixa, só que de grupos
de teatro, dança, circo. Sei lá, acho que aqui é a ponta de um iceberg de
brigar por esse espaço porque ele é importante pra cidade. Muitos grupos
surgiram, muitos trabalhos. Esses grupos que estão aqui já estão há muito tempo
na estrada, já provaram o seu valor artístico e histórico. A importância que
tem para as próximas gerações, pra fora, sei lá, só fico um pouco
decepcionado por ver que estou com 37 anos e que quatorze anos da minha vida eu
tô aqui, e ainda não nos deram esse espaço. Maluco, entende? Tudo isso que eu
falei já foi provado, a gente conseguiu há uns anos atrás, disseram: ah, vocês
tem que trazer um projeto arquitetônico. Nós não tínhamos grana, os grupos, mas
de uma maneira criativa, inovadora fomos lá na Universidade Federal, na UFRGS,
entramos em contato com o pessoal da Arquitetura, numa turma pra um curso
inteiro desenvolver seu trabalho. Temos um projeto arquitetônico pra esse
espaço feito por alunos e professores da Arquitetura da UFRGS com recomendações
e louvores do Iphae, Iphac, Ipac e todos esses órgãos e mesmo assim ainda estou
aqui hoje, dia 05 de março de 2014 dizendo: acho que vão nos dar o comodato dia
27 de março de 2014. Espero que sim, que a gente possa desenvolver e sair dessa
burocracia.
Entrevista
com Luis Marasca
Marasca:
Bom, meu nome é Luís Marasca, mais conhecido como Marasca.
Giancarlo:
E o que o senhor faz aqui no Falos e Stercus?
Marasca:
Eu venho acompanhando o grupo Falos e Stercus desde 2001, quando eu conheci o
Marcelo Restori, foi praticamente meu início da relação com o teatro. 2001. Aí
que eu comecei a desenvolver esse trabalho, que até então eu não tinha... tinha
feito já alguma cenografias pra uma ópera, poucas coisas.
Giancarlo:
Tu não tinha trabalhado com o teatro, até então?
Marasca:
Poucas vezes. Talvez três vezes, quatro vezes. E aí comecei essa experiência a
convite de um amigo que também é artista plástico, que é o Félix Bressan, e aí
começou a nossa amizade, nossa relação, foi surgindo trabalho, foi surgindo um
interesse meu também por essa área.
Giancarlo:
Como é que tu vê esse espaço aqui, um espaço público ocupado?
Marasca:
Pra mim, posso dizer que é a minha possibilidade pra produção. Que pra um
artista plástico, a coisa do ter um espaço, principalmente um artista como eu,
que sou um artista das três dimensões. Eu sou formado na UFRGS em Escultura. E
a escultura é uma coisa que requer muito espaço, e tu precisa de um ambiente
onde tu possa fazer barulho, tu possa fazer sujeira. E atualmente nesse
ambiente urbano isso é praticamente impossível. Nós temos vários artistas que
vivem enclausurados no centro de Porto Alegre, por exemplo, e acaba se
refletindo no próprio trabalho, que a natureza das obras acaba diminuindo de
tamanho, também.
Giancarlo:
Em função do espaço?
Marasca:
Com certeza. Então o espaço público é um espaço difícil, agora mesmo a gente
vem batalhando as coisas da autorização, não pode colocar uma escultura num
espaço público sem...ou seja, um artista individual, viver da sua arte,
conquistar um espaço, pagar aluguel é uma coisa impossível no nosso mercado de
artes. Então por isso que eu digo que aqui, essa condição de ocupar aqui
gratuitamente é a condição da minha existência. Praticamente. Claro, eu tô
falando uma coisa genérica, eu amo arte, eu daria outro jeito, mas isso aqui
me ajuda muito, facilita muito esse apoio que eu tenho aqui de espaço.
Senão não disponibiliza, a própria arte não se sustenta porque o nosso mercado
de artes no Rio Grande do Sul não sustenta tu produzir uma obra, tu vai levar
um mês e aí tu vai vender pro mercado de artes plásticas é uma obra de três mil
reais, dois mil reais. E aí como que tu vai pagar o aluguel pra manter isso? Tu
vai ver um galpão é seis mil reais. Então é uma equação que não fecha. Ou seja,
é impossível. Então, aqui, graças a esse espaço eu consegui produzir, consegui
ter um retorno financeiro, uma profissão paralela a que eu desenvolvo aqui é a
profissão de professor, dou oficina de artes.
Giancarlo:
Quanto tempo, tu lembra há quanto tempo tu tá aqui trabalhando com os guris? Já
desde o início, também?
Marasca:
Nós estávamos na Usina do Gasômetro com o Falos e Stercus e viemos pra cá,
retornamos pra cá, porque o Falos tinha iniciado a ocupação aqui, mas
retornamos pra cá em 2001. Final de 2001, uma coisa assim. Desde então eu estou
por aqui. Tinha outro ateliê na Tenente Alpoin e justamente eu perdi pro
aluguel. Lá o aluguel era naquela época, 2001, o cara queria cobrar quinhentos
reais e eu comecei a achar caro. Naquela época pra mim já era difícil
sustentar, praticamente não conseguia ter lucro com o ateliê. Eu produzia pra
pagar as taxas. Porque a arte é isso aí. Então, nesse sentido, eu não tenho
como agradecer esse espaço, entendeu? E hoje em dia eu fico mais feliz ainda
porque eu conquistei a confiança de vários grupos que foram conhecendo meu
trabalho. Vocês mesmos do Oigalê. O pessoal tá respeitando as coisas que eu
faço, tá reconhecendo a diferença no modo de fazer, porque eu me proponho a uma
construção diferenciada da cenografia e tem tido bastante sucesso. É uma
relação eu acredito que seja mais intensa. Porque a gente atualmente a
cenografia propõe independente. Já não é aquela coisa do diretor mandava, o
cara fazia, encomendava pra fazer. Já venho desenvolvendo um trabalho diferenciado
que onde eu tenho o meu espaço pra criar dentro do teatro. Então isso aí tem me
motivado muito. Então eu tenho tido espaço, eu gosto das pessoas que me dão
espaço pra mostrar ideias.
Giancarlo:
Agora tem a possibilidade da gente conseguir o comodato, um tempo de segurança
maior, digamos assim pra desenvolver o trabalho aqui dentro e poder investir no
local. Como é que tu vê isso? Tu vê com bons olhos, tu acha que...
Marasca:
Eu acho que isso é um... isso quando a gente conseguir vai ser a possibilidade
da gente organizar esse bairro, esse núcleo periférico que é esse bairro aqui
do Partenon, São José, a própria Conceição que nós temos aqui na frente, uma
vila com uma pobreza muito grande, de poder oferecer oficinas, cursos,
mobilizar essas comunidades, atrair. Que hoje em dia as portas estão fechadas,
acho que isso aí é uma coisa... nós temos a possibilidade de estar aqui mas não
temos a possibilidade de oferecer esse espaço, compartilhar esse espaço. Porque
nos obrigaram a fecharmos as portas. Isso aí eu acho uma coisa triste. Mas
eu acredito que quando a gente tiver isso aqui, eu vejo isso aqui como um
grande centro cultural aqui pra essa região. A gente produzir teatro, não
lá pra Porto Alegre, visto que aqui tem grandes grupos já reconhecidos, mas a
minha ambição maior é a gente poder oferecer... Eu mesmo, imagina eu aqui no
meu ateliê, oficinas pro pessoal daqui, ensinando a arte. É assim que eu vejo
todo esse espaço. Nós já mais velhinhos, sócios honorários, e outro pessoal
gerindo o que a gente montou aqui. Porque eu tenho uma expectativa grande com
isso aqui.
O
que eu sinto falta um pouco maior ainda é de uma integração maior dos grupos de
uma forma comercial, uma organização comercial entre os grupos no condomínio.
Nós temos uma enorme carência de produção, a gente não consegue se gerir de uma
forma organizada, apesar da gente tentar, mas em função da demanda e do tempo a
gente não consegue isso. Eu acho que nesse sentido a gente tende a caminhar
ainda. E crescer nesse sentido. A gente ser uma coisa só, se vender, se
produzir, como uma totalidade. Atualmente a gente tenta se encontrar, mas a
gente não consegue organizar as coisas ainda de uma forma conjunta. Eu acho que
nesse sentido a gente devia crescer. A gente pode crescer, né?
Giancarlo:
Com certeza.
Marasca:
Uma coisa que nós temos aqui que é muito importante é a questão da segurança.
Segurança no sentido de tu ter um ateliê num bairro, vocês mesmo como grupo,
hoje em dia, ter segurança em um lugar é muito caro. É outra coisa que
impossibilita, também a arte. A gente tem um ateliê, um lugar. E isso aqui é
uma coisa controlada. Nós estamos aqui, num lugar bem seguro. Isso aqui é
uma coisa que eu gosto daqui. No outro ateliê que eu tinha eu nunca dormia
tranquilo, sempre ficava preocupado, que os caras arrombam, entram, te
roubam...
Giancarlo:
As ferramentas e tudo...
Marasca:
Tá sempre inseguro. Então pra ti trabalhar tem que ter uma empresa de
segurança. Mesmo assim não adianta muito. Então isso aí eu acho uma coisa muito
legal. A gente bem gradeado aqui, é um lugar seguro.
Giancarlo:
Sim, que acaba somando, né?
Marasca:
Soma todas essas coisas. A gente não tem custo de cidade, água, essas taxas
todas a gente não paga. Isso aí já é um custo enorme. Em vista do retorno que a
arte te possibilita às vezes inviabiliza. O nosso mercado aqui é um mercado
menor. Agora que tá tomando fôlego graças ao apoio que a gente tem do público,
do governo, mas tu vai viver da própria arte é uma coisa que eu acho muito
difícil. Mas eu me sinto muito bem aqui, sou muito bem acolhido por todos, me
relaciono bem com todas as pessoas daqui do espaço. Outra tristeza que eu acho,
que eu não me conformo é o espaço do Jessé ali. Um dos melhores espaços,
abandonado. Isso aí nós tínhamos que dar um jeito.
Entrevista com Marcelo
Restori
Giancarlo:
A ideia é que tu fales sobra a ocupação, o Fábio falou que vocês estão aqui
desde 2000, falou da trajetória de montagens, mais ou menos uns dez espetáculos
vocês foram montando nesse meio tempo. Ele talvez tenha lembrado de todos, se
quiser falar de novo sobre isso também. Mas eu quero que tu fale um pouco sobre
isso mesmo, a ocupação, a importância da ocupação pro grupo. Mais do que o
trabalho do grupo em si, e sim o quanto isso reflete no trabalho de vocês, na
dinâmica, na sobrevivência do grupo. Enfim, na importância que isso tem.
Marcelo:
Bom, como já situaram, 2000 a gente entrou aqui a princípio pra fazer um
espetáculo, o In Surto, era pra
ensaiar e se apresentar aqui. Mas nós já vínhamos da experiência de ocupar dois
outros espaços que não haviam vingado, que eram os galpões do Deprec e depois
do Cais do porto. Nos dois a gente entrou em um certo governo e foi retirado em
outro governo. E aqui, aqui a pretensão era mais pro espetáculo. Quando a gente
aqui e aí sim já estava um outro governo também e havia uma direção aqui aberta
pra coisa da luta antimanicomial, que fechava com o sentido que a gente pensava
de um espaço público. E depois da vinda da Bienal e dos outros grupos a coisa
se efetivou mais como uma ocupação, eu acho. Em de não ser só pra um espetáculo
e só pra um grupo. A gente nunca teve a pretensão de ser o grupo ali e sim uma
ponta de lança pra que, como a gente havia feito com o Deprec e no Cais do
porto e há muito tempo a gente tentava abrir uma brecha, que um espaço público
desse essa possibilidade. Pro grupo, ele facilita em tudo. A gente teve,
aqui a gente conseguiu solucionar essa questão de ter onde guardar o cenário,
teve como reaproveitar esses cenários, e não mais a cada lugar que a gente ia
ter que botar fora, entende? E conseguiu pensar um estética não só pra cá,
porque a gente sempre teve essa coisa da ocupação em locais alternativos de
poder ir calmo e trazer as coisas pra cá, de poder se equipar pra isso de ter
aonde guardar equipamento de som e de luz, e assim por diante. Isso pro grupo.
E isso facilitou muito a gente estar aqui, a gente apresentar coisas aqui como
a gente sair pra outros lugares, como a gente ir para as vilas com mais
tranquilidade que a gente ia antes. Mas mais do que isso é um sentido assim de
a gente sabe o quanto da luta da valorização da nossa profissão, de quanto a
gente tenta mostrar pro poder público que é algo que se deva valorizar, que é
algo que tem um fim cidadão e social, só por ser arte já é isso, quando dá
acesso. Nós achávamos que aqui é uma ponta de lança pra provar que os grupos
tinham capacidade de fazer a gestão de um espaço, de tornar ele realmente
público.
Então
quando a gente chegou aqui, já fazia uns dez anos que isso aqui era depósito.
Depósito de quinquilharia, de lixo hospitalar que a gente tirou um e a Bienal
tirou depois e até fez um túnel, de um lado a outro com todo aquele lixo. E
depois a gente vê, quando teve uma produção contínua aqui de vários grupos com
oficina pra internos, pros funcionários, pro entorno, pra comunidade como um
todo em Porto Alegre. A coisa que eu acho importante que quando a gente chegou
aqui havia um estigma da cidade para com o Hospital. Os grupos conseguiram
mudar essa realidade. Conseguiram colocar essas pessoas que tinham estigma
aqui dentro. A gente botou muito público aqui. Todos os grupos. A gente
teve uma produção de um centro cultural na época, que em alguns outros lugares
não conseguia ter esse número de produção de vários grupos. De um acesso,
porque eram preço populares quando não gratuitos e não só pela gratuidade, mas
também pela diversidade de estéticas, que eu acho que deva ser assim um espaço
de cultura, da diversidade. A gente conseguiu dar uma vida a esse lugar que
era um lixão e que estava largado, dar um sentido real do público nessa coisa.
Houve sim um regresso quando houve toda a questão do laudo usado no governo
Yeda, que nos proibiu de executar coisas aqui, trazer público aqui, que acabou
não deixando mais efetivar isso que é essa questão aonde tu tem um espaço pra
criar, um espaço pra guardar as tuas coisas, tu pode sair, tu pode voltar e tu
pode estar pleno pra executar essa coisa pública. E com dados, porque a gente
trazia público e esse público vinha pra cá, provando que a gestão de alguns
lugares ociosos é capaz quando tem uma organização de grupos que estão maduros
pra fazer essa gestão. Eu acho que isso é o principal da ocupação. Há uma
luta acho que simbólica e concreta dela ser efetivada no papel. O
reconhecimento pra que esses grupos tenham uma ocupação adequada com fim
público pra esse espaço, com os grupos hoje numa maturidade de saber qual a
responsabilidade também de ter essa seção de espaço público, porque eles já
fizeram ocupação com todo o trabalho que eles fazem, eles fizeram um projeto,
nós, no caso, fizemos um projeto arquitetônico e estamos dispostos até a ir
captar dinheiro pra arrumar esse lugar, desde que esteja pra esse fim dos
grupos dessa gestão numa questão de uma cultura pública. Eu acho que no momento
que isso acontece e pela própria mão dos grupos, eu acho que isso serve de
exemplo pra outras situações que podem vir a acontecer no país ou até fora.
Giancarlo:
Tu acha que, estando aqui no São Pedro, isso acaba influenciando a estética do
trabalho de vocês ou não necessariamente, na medida que o Falos já tem uma
estética própria, uma forma do seu teatro. Mas tu acha que esse espaço acaba
influenciando na criação de vocês ou isso não chega a afetar diretamente?
Marcelo:
Ele facilita. Ele facilita porque assim, a gente vinha nessa pesquisa,
nessa coisa de ter uma construção de uma linguagem própria. Mas essa liberdade
do espaço aqui que tu tem, tanto lá fora quanto dentro, possibilita ampliar
essa pesquisa. Sendo feito o espetáculo aqui ou não. A gente fez o No Vão da Escada. Aqui efetivamente
foram o In Surto, que foi o
espetáculo que levou, foi o primeiro espetáculo que enchia essa rua de público.
Chegava a ter que mandar gente embora porque não dava. E na revista Cult
inclusive ele foi escolhido um dos dez espetáculos da década de 2000. Eu digo
isso mais pelo significado que foi esse espetáculo pro espaço. Mas foi o In Surto, a gente fez O Vôo das fêmeas, a gente chegou a fazer
uma segunda temporada de No Vão da Escada,
a gente fez uma primeira temporada do No
Vão na Usina do Gasômetro, mas ele foi todo construído aqui. Quando ele
veio pra cá ele ficou mais adequado do que quando estava lá.
Giancarlo:
Prometeu não?
Marcelo:
Prometeu não. Prometeu foi ensaiado aqui e apresentado no cais do porto e lá na
Usina depois. O Borges foi ensaiado
aqui e depois feito na ilha. A Loba foi
ensaiado aqui e depois levado pro Castelo do Alto da Bronze, devo estar
esquecendo de mais alguns no meio do caminho.
Giancarlo:
As intervenções que o Fábio falou.
Marcelo:
As intervenções também. Espetáculos de rua. O próprio agora Despedida de Palhaço foi todo ensaiado
aqui. Mas tudo isso eu estou dizendo porque alguns foram construídos exatamente
pra cá. E outros foram construídos a partir daqui pra outros lugares. Ah, o Hybris, que por ser aqui a gente tinha
todo um desenho. Na verdade, a diferença dessa sala do Hybris pro que a gente queria fazer era só uma sala mais ampla, um
galpão. Mas quando a gente conseguiu o espaço do Hipódromo, e era um prédio
abandonado de três andares e tu tinha que andar por esses três, a gente estreou
o espetáculo adaptando o original na forma dele, porque o espaço pedia algo
diferente. Mas a origem dele, que a gente ainda não conseguiu fazer num galpão,
ela foi formatada por causa dessa sala aqui. Essa aqui que a gente tá
conversando agora. Sim, o espaço, agora voltando, dando toda essa volta pra
dizer a tua pergunta. Sim. O espaço é bem importante pra nós na questão da
nossa pesquisa do espaço. Tanto pro que é construído aqui quanto pro que é
construído pra fora.
Giancarlo:
O In Surto foi feito pra cá, com toda
a influência desse espaço, dessa energia.
Marcelo:
Exatamente. Com todo o simbólico que tem ali do espaço físico. Foi totalmente
aqui.
Giancarlo:
Alguma que tu queira falar, que tu lembre que passou, que esqueceu agora aqui
da conversa rapidamente que a gente teve. Mas assim, tu acha importante
salientar, pontuar.
Marcelo:
O que eu acho importante pra falar é disso aqui se modelar pra outras, é isso.
Giancarlo:
Sim, de servir de exemplo até.